5 de nov. de 2009

Fundamentos Bíblicos


Desvendando o original hebraico

No caso da palavra hebraica para coração (Lev), temos um exemplo de como nossa cultura ocidental contemporânea ainda utiliza objetos concretos para expressar ideias abstratas.

Geralmente associamos o coração com emoções como o amor ou a bondade, como na frase “ele é um homem de bom coração” (ou seja, uma pessoa carinhosa, amorosa). Isso vale também para os judeus, que viam o coração como o centro das emoções.

Todavia, de maneira diferente da nossa, eles também viam o coração como o centro do pensamento, assim como nos vemos o cérebro. Dessa forma, quando a Bíblia nos convoca a amarmos a Deus de todo nosso coração, como em Deuteronômio 6.5, não se está falando de uma emoção, mas sobre mantermos todos os nossos pensamentos e emoções funcionando para Ele.

Na antiga escrita hebraica, o paleo-hebraico, a palavra coração (Lev, em hebraico) é formada por duas letras. A primeira letra, chamada lâmed, tem o desenho do cajado de um pastor, símbolo de autoridade. O antigo pastor de ovelhas utilizava seu cajado para direcionar as ovelhas a uma direção específica, como uma fonte de água o um pasto. Esta letra, em hebraico, quando unida a uma palavra, adiciona a preposição “para” a esta palavra. Por exemplo, quando quero dizer em hebraico “para Daniel”, é só adicionar a letra lâmede ao meu nome, ficando “Lê-Daniel”.

A segunda letra, chamada beit e que significa “casa”, tem o desenho da planta baixa de uma tenda nômade, o que traz a ideia de estar dentro de casa. A própria letra beit, quando precede uma palavra, significa o prefixo “em”. Por exemplo, em hebraico, a palavra midbar significa “deserto”. Se colocarmos o beit, fica bemidbar, palavra que significa “no deserto”, e é o nome original hebraico do livro de Números.

Quando estas duas letras estão combinadas, elas significam “a autoridade interior”. Ou seja, o coração é aquilo que “governa a casa”, ou seja, que orienta as atitudes dos homens.

Foi por isso que Jesus afirmou: "Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." (Mateus 6.21.) Ou seja, nossos pensamentos e emoções estarão sempre voltados para as coisas que consideramos valiosas. Fica a pergunta: o que temos considerado como valioso?

Jesus nos ensinou que "o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo" (Mateus 13.44). O maior tesouro que um homem pode ter é herdar o reino dos céus. Nisso devemos aplicar nosso pensamento e nossas emoções. Esse objetivo deve “governar a nossa casa”.

::Por Daniel Lopez

Jornalista, mestre em Linguística e professor de Filosofia da Educação da UFRJ. Estudou hebraico na Sinagoga ARI, em Botafogo–RJ.