17 de dez. de 2018

A Doutrina Social da Igreja na época dos pais da Igreja

As características da Doutrina Social da Igreja já estavam presentes entre os primeiros cristãos que por conta disso sofreram discriminação e perseguição por tratarem os pobres e os menos favorecidos com solidariedade em um tempo em que era comum o desprezo e o abuso pelos chamados “nobres”, apesar disso, esses princípios continuaram a ser um norte para a Igreja durante o período dos pais da Igreja.

A respeito da Dignidade Humana, Tertuliano disse que se o ser humano recebeu gloria de Deus no toque, recebeu ainda mais gloria com o sopro de vida em seu ser. O autor africano atribui grandes merecimentos por meio das maravilhas operadas por Deus em sua criação. Gregório de Nissa, que vivia em meio a um povo que não tinha princípios cristãos de solidariedade, subsidiariedade e bem comum, entendia que isso se devia ao fato do pecado que deformou o ser humano e o afastou desses princípios trazendo consigo a injustiça, a divisão e a falta de amor. Basilio de Cesareia atestava que conforme o texto de Mateus 25:35, aqueles que saciam a fome do próximo estão caminhando para a vida eterna, ou seja, para entrarem no Reino dos Céus. Gregório de Nazianzo denunciava, no seu tempo, a opressão dos pobres por aqueles que detinham o poder e os meios econômicos, que acumulavam riquezas sem se importar com quem não tem nada, nem com órfãos ou viúvas.

Sobre o Bem Comum, Joao Crisóstomo entendia que as coisas que foram criadas por Deus não poderiam pertencer a suas criaturas por elas se apropriarem delas, mas tudo o que somos devemos a ele, junto com a vida, o respiro, a luz, o ar e a terra. Quando a pessoa fala de algo como se fosse dela é algo sem sentido. O verdadeiro autor da criação é Deus e reconhecermos sermos estimados dignos instrumentos em suas mãos. Para Agostinho os dons que Deus nos concedeu são para todos os homens, não por mérito pessoal, mas porque toda a criação é obra Dele, Ele não deve nada a ninguém, mas dá tudo ao ser humano de forma gratuita e por isso os bens não deveriam ser apropriados.

Quanto a Subsidiariedade, João Crisóstomo coloca em primeiro lugar que o pai de família esteja ligado com seus familiares, porque cada um deve preocupar-se com a salvação do próximo, de maneira que todos tem que conduzir uma ovelha às pastagens convenientes. É preciso cuidar do bem do outro, pagando todas as dívidas financeiras, mas também estar em dia com aquilo que nós devemos a Deus, para que na nossa salvação sejamos bons para o próximo, afim de que a salvação seja dada quando procuramos o bem comum. Teodoro de Ciro disse que o governo é dado por Deus como uma forma de curar as feridas causadas pelo pecado. Assim como os pais tem os meios e por isso são responsáveis pelos seus filhos ou ainda na Igreja há alguns com mais responsabilidades e outros são a eles subordinados.

A Participação está na DSI como resultado da Subsidiariedade e a carta a Diogneto diz que assim como a alma esta no corpo, os cristãos estão no mundo, fazendo o mundo melhor do que as pessoas concebiam, testemunhando um modo de vida admirável e paradoxal, não alheios a vida social. Aristides de Atenas, um apologista, afirma que os cristãos aguardam a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro, enquanto tem os mandamentos do Senhor Jesus, gravados em seus corações.

A Solidariedade é colocada como princípio para uma sociedade de igualdade e dignidade nos direitos, sendo o caminho para a unidade de todos os povos. Estamos todos conectados pelo mundo por meio da tecnologia digital, mas as desigualdades ainda são muito fortes, servindo como forma de manipulação, corrupção e opressão, sendo nacionais e muitas vezes internacionais. Tertuliano fala de uma espécie de caixa comum, onde todos poderiam levar ali quanto pudessem. Era sua modesta contribuição mensal e cada um oferecia de forma espontânea. A Comunidade ajudava também os condenados às minas, deportados nas ilhas e aqueles jogados no cárcere, de maneira que os pagãos diziam “como eles se amam entre eles”. Com quase a mesma referência Justino descreve que a comunidade se realizava em favor dos mais necessitados, sejam órfãos, viúvas, prisioneiros ou mesmo estrangeiros de passagem. Desta forma, a pessoa deveria ser amada ao ponto de se dar a vida por ela, pois pelo depoimento deles a ação das comunidades cristãs visava a caridade para com todos. Tertuliano fala da caridade de Jesus com os sofredores, através da paciência. Cipriano, seguindo Tertuliano dizia que era preciso estar com Cristo para alcançar a Deus. Com Cristo é possível viver o a solidariedade do sofrimento. 

Concluímos com a afirmação de que os pais da Igreja tiveram não só a compreensão dos problemas sociais, como também o engajamento no trabalho para ajudar e socorrer as vítimas dos infortúnios, sempre baseados na Palavra e tendo como principal paradigma a Jesus Cristo. A Palavra de Deus nas Escrituras Sagradas e a atuação de Cristo iluminam a Igreja no seu discurso e atuação no mundo de hoje, onde ela é convidada a reforçar o valor da dignidade humana, a destinação universal dos bens, a subsidiariedade, a participação e a solidariedade como princípios da Doutrina Social da Igreja.


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