19 de out. de 2020

É preciso autoconhecimento e conhecimento do outro para promovermos a resiliência

O aconselhamento pastoral não deve ser semelhante ao processo terapêutico e científico que trata da pessoa assistida como um sintoma, uma patologia, um paciente assim como outros, segundo Rogers (2001) de uma forma pessoal e num relacionamento entre o aconselhador e a pessoa que está com alguma dificuldade, é preciso confiança, nesse processo o conselheiro não é apenas expectador, e também não é um solucionador, é alguém para ouvir, uma outra pessoa, esse processo de crescimento interpessoal é uma forma de se aprender a viver a vida de maneira congruente, ou seja, tendo autoconhecimento, uma definição de si próprio. 

No processo de autoconhecimento e de encontrar o sentido para a vida nos deparamos com situações que traumatizam e deformam os seres humanos, embora tenhamos estudos da psicanálise que apontam que tudo tem um motivo e que o ser humano em sua essência pode ser deformado e assumir características extremamente negativas devido às suas experiências traumáticas, como os estudos do pai da psicanálise Sigmund Freud, há outros estudos também da psicanálise que apontam que pessoas que passam pelos mesmos traumas são afetadas de formas diferentes. É o caso da logoterapia, desenvolvida por Viktor Frankl, um sobrevivente dos campos de concentração nazistas, tendo sido bem sucedido num trabalho que reduziu o índice de suicídio entre os jovens austríacos, a logoterapia é a terapia de sentido da vida, segundo Frankl (2007) o ser humano não está em busca de prazer e alívio, mas sim, em busca de um sentido para a vida, por isso, homens e mulheres que passaram por situações horríveis, em alguns casos sofrem com depressão e em outros permanecem saudáveis. 

Resiliência é a palavra para designar a capacidade humana de se recuperar após um choque, é a possibilidade de voltar a ser quem era mesmo após uma experiência traumática. Precisamos ser resilientes e a forma oportuna de sermos resilientes é encontrarmos sentido na vida, uma pessoa com propósitos, aceitando uma missão, sabendo quem ela é por vocação e fazendo a diferença no contexto onde ela está inserida será mais resiliente do que uma pessoa sem propósitos, que não tem uma missão, sem um sentido para a vida. Em outras palavras, a resiliência não existe em si mesma, mas é o resultado de uma forma de ser e compreender a si mesmo e aos demais. 

No aconselhamento pastoral podemos ajudar as pessoas a encontrarem um sentido para a vida, sua vocação, voltarem a sonhar com a realização de um trabalho que faça a diferença, voltarem a aprender, crescerem como seres humanos, ser alguém melhor, abençoadores. Essa forma de experiência deverá tornar essa pessoa mais resiliente. 

O próprio pastor é resiliente devido ter encontrado um propósito, por isso tantos homens e mulheres conseguem resistir diante de tarefas que parecem humanamente impossíveis de aguentar. Eles estão agindo conforme seus sonhos, sua vocação, seu sentido para a vida, ser aqueles que cuidam dos outros. 

Certamente muitos pastores não fazem ideia desse conceito e não imaginam de onde tiram forças para serem tão resilientes. Esse conhecimento é uma forma de se compreender a si mesmo e uma receita para ajudar quem está sofrendo por traumas, desesperança, passando por uma crise existencial, depressão e desejos suicidas. 

Algumas pessoas tem encontrado sua missão em proteger os animais, outros são defensores dos direitos das minorias, das mulheres, pessoas em situação de moradores de rua, órfãos, idosos, os mares e biomas afetados pela humanidade, pessoas perseguidas por sua fé, enfim, há muito trabalho esperando por pessoas que precisam de sentido para suas vidas. 

Podemos observar, por exemplo, os homens e mulheres que outrora eram viciados em entorpecentes, mas que agora dedicam suas vidas para ajudar pessoas que se encontram nessa situação. Pode ser que eles consigam ajudar quem está no vício por já terem passado por essa experiência traumática, mas temos a certeza de que eles se tornam mais fortes para resistir a eventuais recaídas devido sua missão de ajudar quem está preso ao vício.

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