10 de jul. de 2019

“O pastor precisa ter o cheiro das ovelhas” e agora as ovelhas estão na internet

Líderes religiosos conformados com a falta de conhecimento ou sem interesse pelo desconhecido têm sido defendidos com conceitos sem fundamentos, baseados na compreensão incorreta de textos bíblicos como, por exemplo, 2 Coríntios 3:6 em que o Apóstolo Paulo escreveu “Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica.”. O texto se refere ao juízo instituído na Lei Mosaica e não no conhecimento em geral, mas essa compreensão só pode ser feita por meio do estudo, algo refutado por quem acredita que o conhecimento é prejudicial à fé. 

Igrejas estão se esvaziando pela incapacidade dos ministros de se atualizarem e acompanharem as mudanças, seja no que diz respeito à Teologia, Ciência, Filosofia ou mesmo questões simples do dia a dia, pois agora a informação está ao alcance da comunidade em geral, muitas vezes na palma da mão. Em comunidades mais simples a barreira que separa o “pastor” de suas “ovelhas” é a resistência à revolução digital. Existe certa dificuldade de adaptação devido a pouca prática ou mesmo um saudosismo pelos bons tempos passados, digo isso sabendo que as memórias tendem a se embelezar e por isso é sempre nostálgico lembrar-se das longas conversas em bancos de praça ou mesmo tomando um café em uma sala aconchegante com bons amigos, bem diferente da fria e distante relação por meio das telas. 

O que não é percebido é que para ter uma informação antigamente era preciso ir a uma loja comprar um bom livro, ou mesmo se deslocar até uma biblioteca para pesquisar, diferentemente hoje podemos pesquisar no lugar onde estamos e em apenas alguns minutos ter as respostas. Nesse ambiente atual, torna-se indesculpável a falta de conhecimento dos líderes e a rejeição pelos novos mecanismos de pesquisa e formação do conhecimento.

As definições de líder foram atualizadas e já não são admitidas posturas autoritárias, possessivas e desinformadas, por isso há um abismo separando a geração anterior de líderes da atual geração que está sendo formada. Isso será prejudicial para todos, pois há a necessidade do aconselhamento e mentoreio dos novos líderes por parte dos líderes mais experientes. No entanto, as lideranças mais antigas não tem facilidade em agraciar os “novatos” com sua experiência de vida, uma vez que não se reconhece autoridade na juventude, isso é um problema evidente nas Igrejas, pois nas empresas e mesmo na política os jovens já lideram e são muito bem sucedidos. Precisamos permitir que a juventude esteja alinhada com a liderança da Igreja, caso contrário continuará a debandada de membros das Igrejas pra outros ambientes de convivência contemporâneos e julgados mais interessantes.

Há, é claro, muitos líderes antenados com as mudanças, homens e mulheres maduros e que estão presentes nas redes sociais, participam de conversas sobre política e mesmo questões do dia a dia, sem nenhuma pretensão de parecerem mais espirituais, são abertos ao diálogo, prontos também para ouvir e não apenas para falar e que não se julgam acima dos demais. É exatamente o tipo de líder que se espera seguir na atualidade. 

Estes são os que estão preparando novos líderes para as novas gerações, dispostos a aprender e melhor ainda a compreender, seja o diferente, seja o opositor, ou mesmo conceitos que possam parecer insignificantes para uma pessoa comum, mas para o líder atualizado o saber é uma prioridade. A liderança não pode ignorar questões epistemológicas, sendo que é impreterível refletir sobre os por quês em nossa existência, seja como indivíduos ou como sociedade, questionar-se sobre sua vocação, sobre a vocação das pessoas que estão a sua volta e até mesmo sobre a vocação da Igreja, sem hipocrisia ou fantasia de uma sociedade terrena perfeita, ponderando inclusive sobre a ética e sobre a moralidade e não apenas repetindo o que foi dito anteriormente.

O diálogo deve estar sempre aberto com o conhecimento científico, mas sem compromisso de comprovação das verdades teológicas, pois não é possível realizar experimentos que validem a teologia, uma vez que a teologia abarca as questões do “além”, também chamada metafísica, no entanto, é possível conciliar questões teológicas como a Cosmologia com as descobertas científicas contemporâneas ou mesmo questões Escatológicas relacionadas aos mais recentes avanços tecnológicos. São apenas exemplos de conciliação e as pessoas estão ávidas por esse tipo de informação para ampliarem sua compreensão sobre a fé.

Não é necessário passar a se comportar como um youtuber para entreter os fiéis da nova geração, mas a compreensão do momento em que vivemos, estar contextualizado e não alienado, é fundamental para a comunicação do ministro com os membros da comunidade. Para tanto o líder religioso precisa estar constantemente se comunicando com seus liderados, seja pessoalmente, por rádio, televisão, internet ou mais precisamente mídias sociais, onde as pessoas passam boa parte de seu tempo.

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