13 de out. de 2020

A falência pessoal e comunitária pela falta de propósito

Um dos motivos para a falência pessoal na atualidade é a falta de propósito, não saber qual é sua vocação e assim não ter um sentido para sua vida. Esse fenômeno chamado crise existencial afeta o ser humano especialmente quando ele não tem mais uma urgência ou emergência pessoal ou comunitária, por exemplo, uma crise financeira, enfermidade, problemas familiares, violência, entre outros. Todos esses infortúnios são um oponente contra o qual lutamos bravamente até que não precisemos mais, então, quando não se tem mais que sobreviver, começa a crise existencial. 

Na história da Igreja e do pensamento cristão não é muito diferente, pois enquanto era perseguida por judeus e romanos nos seus três primeiros séculos resistia bravamente enquanto anunciava as maravilhas de Deus onde estivesse presente. Quando a perseguição findou após o Édito de Milão no século IV a Igreja começou a se conformar ao seu mundo, e assim foi durante a Idade Média, com suas missões colonialistas, exploratórias e políticas. 

Após a Reforma Protestante de 1517 a Europa experimentou novamente o sabor e a iluminação de uma Igreja novamente centrada em Cristo, não perfeita, ainda cheia de subversões, mas voltando para o prumo, a vocação, propósito e chamado para o qual fora eleita. 

Segundo a análise exegética de Blauw (1966), do texto da Primeira Epístola do Apóstolo Pedro, no capítulo dois, nos versículos nove e 10, Deus chamou a Igreja, que somos todos nós cristãos de todos os séculos, das trevas, em sua desordem e falta de propósito, para sua luz, e nos deu títulos, tais como sacerdócio real, geração eleita, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, cujo propósito é proclamar as grandezas Dele, sendo assim, quando aqueles que se consideram Igreja não cumprem a Missão, automaticamente perdem seus títulos e não devem mais considerarem-se povo de propriedade exclusiva de Deus, sacerdócio real, geração eleita e nação santa. 

A Igreja atual está parcialmente moldada conforme os anseios da sociedade, ganho de capital, segurança patrimonial, imediatismo e status. Mesmo denominações com trabalhos de expansão não conseguem esconder seu interesse em anunciar os seus números de templos, pessoas, arrecadações, tudo posses, tudo da Igreja. Em seus anúncios são ofertados milagres financeiros, são vendidas curas e mais bençãos sobrenaturais. Renunciaram seus títulos e não são mais povo de Deus, ainda assim acreditam que Deus pertença a eles e assim sendo o oferecem como um produto. 

A Igreja passa por uma crise existencial terrível e nesse contexto muitas pessoas que não estão em busca de alento para suas aflições pessoais também não encontram nela propósitos, por isso o fenômeno chamado “desigrejados”, pessoas que não vêm sentido em congregar, não querem um produto, não estão desesperados por cura ou sucesso financeiro, mas são carentes de ouvir sobre as maravilhas de Deus e de pertencerem a Ele. 

Pedro revela que Deus demonstra uma possessividade para com seu povo quando escreve: “Mas vocês são um povo escolhido, um sacerdócio real, uma nação santa, um povo pertencente a Deus” (2.9).20 Com um a referência a Oséias 2.23, Pedro declara que os leitores que, no passado “não [eram] povo”, passaram a ser chamados de “povo de Deus” (2.10), isto é, Deus lhes deu um novo nascimento. (Kistemaker, 2006, p21) 

Ao pensarmos na Obra que nos foi confiada como Igreja, há uma inversão de valores, sendo que a Igreja não possui nada, assim como não possui Deus, também não possui a Missão, ao contrário, Deus possui a Igreja na medida que a Missão também possui a Igreja. Quando a Missão de Deus, Missio Dei, possui a Igreja e todo o trabalho que é executado por amor a Deus é planejado como tarefa intrínseca ao sentido de a Igreja existir, a isso podemos chamar de propósito, sem o qual não faz sentido algum congregar, pois deixamos de ser Igreja no sentido de povo de propriedade exclusiva de Deus e passamos a ser apenas igreja, no mesmo sentido do grego eklesia, apenas mais um ajuntamento. 

Pedro escreve para pessoas que estavam vivas antes da destruição do templo de Jerusalém. Ele próprio um judeu, Pedro se dirige a muitos cristãos judeus e cristãos de descendência gentia. Além disso, ele fala aos crentes de todas as épocas e lugares que lêm sua epístola. Conhecendo muito bem o Antigo Testamento, Pedro aplica as palavras dessa parte das Escrituras aos seus leitores, porque ele os vê como povo escolhido por Deus. Ele toma emprestada a profecia de Isaías, que registra as palavras do Senhor: “Ao meu povo, ao meu escolhido, ao povo que formei para mim, para celebrar o meu louvor” (Is 43.20,21). Pedro, portanto, vê os crentes como corpo de Cristo, isto é, a igreja. (Kistemaker, 2006, p.126) 

Nossa tarefa principal como Igreja é anunciarmos que é chegado o Reino de Deus e isso nós podemos fazer tanto por meio de textos, vídeos, áudios, por meio das artes, de maneira criativa, pela internet, pessoalmente, dentro e fora dos templos, em nossos locais de trabalho, escola, nossa comunidade, vizinhança, mas precisa ser essencialmente pelo nosso exemplo. 

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