19 de out. de 2020

A importância da resiliência para os conselheiros religiosos

A importância da resiliência no aconselhamento pastoral não pode se resumir à pessoa assistida durante o aconselhamento, a pessoa mais frágil e que precisa de apoio. É preciso pensar no todo, afinal, todos são pessoas e o pastor que se dedica a atender pessoas em situações adversas pode ser sobrecarregado pelos problemas alheios, pois um mesmo pastor pode estar lidando com dezenas de situações que exigem saúde física, psíquica e espiritual. Segundo Frankl (2007) o ser humano tem essas três dimensões que precisam estar em equilíbrio. 

Essa tricotomia só poderá ser mais bem compreendida pelo conselheiro religioso, pois pessoas sem formação religiosa não poderão atender a necessidade de resolução de problemas relacionados ao esforço humano para estar em equilíbrio, por exemplo, diante do desânimo, da incerteza e insegurança ocasionados pela falta de fé. Esse é só um exemplo das diversas formas de sofrimento relacionadas à espiritualidade dos seres humanos. 

Aconselhamento Pastoral
O aconselhamento pastoral deve servir como uma forma de ajudar pessoas que estão precisando de direcionamento, mas também é uma forma de socorro para pessoas que podem estar correndo perigos mortais, como por exemplo, desejos suicidas. A pressão é grande sobre as pessoas que lidam com esse tipo de compulsão e patologia. 

Essa pressão tende a causar transformações no conselheiro e isso não é necessariamente ruim, caso o conselheiro seja resiliente, se adapte às novas informações, se mantenha firme em suas convicções religiosas, encontre uma maneira de equilibrar as emoções e por último, mas não menos importante, cuide de sua saúde física. 

O cuidado com a espiritualidade consiste em não ser inconsistente em suas resoluções, manter uma rotina de oração, leitura da Bíblia, leitura de demais literaturas que possam servir de apoio, comunhão com a família, com o grupo religiosos do qual faz parte e também a comunidade onde está inserido, sejam vizinhos, colegas de trabalho, escola ou hobbys. 

A saúde psíquica da pessoa vocacionada para o aconselhamento precisa ser observada nos sintomas que significam perigo, mas também precisam ser tomados cuidados como prevenção para evitar que determinada experiência seja destrutiva, demasiadamente dolorosa ou ainda traga prejuízos em outras áreas de atuação do conselheiro, bem como, seus relacionamentos pessoais, conjugais e familiares. 

Segundo dados do Instituto Schaeffer, dos Estados Unidos, 70% dos líderes religiosos lutam constantemente com a depressão, 71% estão esgotados física e mentalmente, ainda dados da pesquisa apontam que 80% dos líderes religiosos acreditam que sua função pastoral afeta negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo. 

Sem amigos, pressionados pelas obrigações familiares e preocupado com todos os membros de sua comunidade e seus familiares, lidando com enfermidades, situações de vulnerabilidade social, diante de situações traumáticas, lidando com os egos e conflitos internos, além é claro do aconselhamento pastoral, ser pastor é um trabalho perigoso. 

Resiliência é vital para os líderes religiosos e a tarefa do aconselhamento pastoral deve se estender também ao conselheiro por meio de redes de apoio, um conselheiro para conselheiros, um ouvinte para ouvintes, um “ombro amigo” para os “ombros amigos”, um apoiador para os apoiadores. 

Há uma cultura de se ignorar os sofrimentos dos pastores e em alguns círculos o pastor que se atrever a fazer queixas será malvisto. É um problema porque impede muitos conselheiros dedicados e que já ajudaram tantas outras pessoas a suportar as suas cargas e que agora quando estão debilitados são abandonados à própria sorte. Os líderes religiosos sofrem pela falta de empatia. 

Toda essa falta de consideração com os pastores e conselheiros religiosos em geral, no entanto, não afetam sua disposição para os cuidados pastorais, essa característica está ligada ao que dá sentido às suas vidas, seu propósito, sua vocação, que é o cuidados dos outros. 

Segundo a sistematização de Viktor Frankl, chamada de logoterapia, ao analisar o comportamento de pessoas que diante de situações horrendas ficavam deprimidas e/ou se suicidavam, enquanto outras se mantinham firmes em suas resoluções, constatou que o interesse principal do ser humano não é encontrar o prazer ou aliviar a dor, mas encontrar um sentido para a vida (Guia de Estudos, 2º Semestre de 2017, p.68). 

Embora estejamos alarmados com o crescente número de líderes religiosos que cedem diante das pressões e se suicidam, podemos afirmar que são as melhores pessoas para aconselharem e cuidarem de outros, pois encontraram um propósito e agora podem ajudar pessoas em crise a também encontrarem seu propósito. 

Nosso trabalho agora é de conscientização de que pastores e pastoras são apenas seres humanos e também precisam de apoio e compreensão enquanto lidam diariamente para serem resilientes e não se deixarem deformar diante de toda a pressão que sofrem.

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