9 de nov. de 2020

A dualidade dos sacrifícios e privilégios de ser Pastor

A carência de bons líderes pode ser percebida nas recorrentes tragédias sociais e familiares que nos assolam na atualidade. O descrédito de nossas lideranças políticas, militares e religiosas deixou nossa sociedade sem um rumo definido. 

Instituições que antes apontavam o caminho para o progresso, para a segurança e para a moralidade, agora são consideradas retrógradas. A má utilização do poder nessas esferas por meio da corrupção, dos sucessivos golpes militares e os abusos por parte de pastores e incluem-se líderes de outras religiões ou seitas além do protestantismo, justificam o desinteresse de grande parcela da sociedade. 

Todos os líderes têm que começar se justificando pelos erros de seus antecessores. Não é o mundo ideal, mas é necessário lidar com o resultado de tantos anos de mágoa. No passado a relação entre pastores e suas igrejas era sustentada pela hierarquia e pela falta de informação, nesse ambiente, tanto o pastor não dispunha de ferramentas como o restante dos membros das organizações religiosas não sabiam quais eram as alternativas para um ambiente de crescimento pessoal. 

Por esses motivos as comunidades podem até pensar que não precisam de pastor, mas a verdade é que até mesmo os pastores também precisam de pastores. Isto fica claro quando pesquisamos os índices de falências dos ministérios pastorais, seja por falha moral, depressão ou por desentendimentos em suas comunidades. Uma pesquisa elaborada pelo Instituto Francis Schaeffer mostra que todos os meses 1500 pastores abandonam seus ministérios por problemas morais, esgotamento espiritual e até mesmo por desavenças com a igreja. 

O pastor que começa o seu ministério preocupado em servir a comunidade automaticamente assume uma posição de poder. Não é fácil lidar com essa posição, por isso o conselho descrito em Primeira Timóteo, “(Bíblia) é o de que os líderes da Igreja não devem ser recém convertidos para que não se ensoberbeçam.” Apesar de terem se passado quase dois mil anos desde que esse conselho foi dado, ainda sim constatamos a carência de líderes religiosos devidamente preparados e amparados em suas necessidades ministeriais. 

Pastores, ao contrário do que o imaginário popular espera, são no fim das contas apenas pessoas, eles sofrem como todos podendo adoecer, se entristecer, podem ser virtuosos em muitos momentos ou simplesmente falhar diante do desafio de liderar dezenas, centenas e às vezes milhares de pessoas. 

Dentre as falhas dos pastores e grande parte das crises de relacionamento com suas comunidades de fé está o abuso de autoridade, o autoritarismo, um poder centralizador, controlador e sem espaço para o diálogo. Isso ocorre de maneira sutil enquanto cresce uma relação de dependência baseada na concepção de que o Pastor sabe mais e por isso decidirá melhor, em contrapartida o dependente perde sua autonomia enquanto transfere sua responsabilidade para o seu Pastor. 

Um importante resultado de nossa reconstrução da história ideativa da passagem do cuidado de si para o cuidado dos outros poderia ser reformulado da seguinte maneira nos termos da psicologia social: na medida em que a relação recíproca de sujeitos (como “ mediadores” potencialmente recíprocos) no contexto de uma “prática da liberdade” (“ cuidado de si” ) se modificou, tomando-se uma relação sujeito-objeto complementar (“ cuidado dos outros” ), e se consolidou estruturalmente, todos os participantes perderam potenciais de liberdade: uns em termos de delegação de responsabilidade própria (a um “ auxiliador” ), os outros em termos de assunção dessa mesma responsabilidade (por outros). Ao grau de tutela de uns corresponde o excesso do fardo de cuidado dos outros. (Steinkamp,1999) 



Não é por acaso que muitos pastores sofrem com stress e depressão, em uma comunidade com centenas de pessoas, caso não tenha um bom preparo intelectual, uma administração financeira saudável e um bom grupo de apoiadores para distribuir as responsabilidades o esgotamento é uma certeza. 

Manter um relacionamento saudável com a comunidade, demonstrando que acima de qualquer privilégio que possa ter por sua posição de prestígio, está sua vontade de servir, ajudando as pessoas a encontrarem seus caminhos, deixando claro que a responsabilidade também é dos demais membros da comunidade bem como de cada indivíduo por si, é a melhor forma de suavizar o fardo e evitar a centralização do poder e um possível autoritarismo tirânico. Apesar dos percalços a alegria de ser um dos responsáveis por conduzir pessoas ao sucesso no aquém e no além deve ser a de um tamanho inimaginável e ao passo que muitas pessoas são ingratas e desinteressadas outras são simplesmente fascinadas pelos seus Pastores.

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