11 de nov. de 2020

O desafio e o perigo de pastorear

Um pastor ou uma pastora naturalmente sofrerá muita pressão ao liderar a sua comunidade, sendo muitas vezes induzido ao erro por falsos ensinamentos. 

A influência pode ser de origem externa, oriunda de outras culturas, por exemplo, a crescente onda do judaísmo messiânico que numa primeira análise pode ser considerado coerente, mas ao se aprofundar no tema logo se percebe a característica judaizante, algo combatido pelos apóstolos no Século I. 

A ameaça à Igreja também pode ser interna, por exemplo, quando uma pessoa leiga assimila uma doutrina incorreta e passa a difundi-la em meio aos demais membros da comunidade e caso o pastor local não interfira a comunidade pode ser dividida e não há limites para os absurdos e perigos nas heresias. 

Em outros momentos o próprio pastor da Igreja pode ser tentado a recorrer a soluções contrárias aos escritos bíblicos, aceitando a venda de objetos supostamente consagrados e com poderes miraculosos, apoiando políticos em troca de ganhos pessoais, em suma cometendo novamente os mesmos erros históricos dos cristãos. 

É fundamental que o pastor possa julgar se sua decisão está de acordo com o credo bíblico e caso reconheça que determinados assuntos são complexos demais para sua conclusão, ainda deverá ser capaz de compreender a conclusão de um especialista e concordar ou discordar. 

Quanto às questões intrínsecas ao meio em que se lançarão ao pastoreio, é importante termos a noção de que não estarão “escrevendo em uma folha em branco”, ao contrário, no Brasil, por exemplo, há uma grande variedade de crenças, valores, dogmas passados de geração em geração e essa herança consiste majoritariamente de catolicismo romano e espiritismo. 

Quando vejo o apego de grandes massas ditas evangélicas as práticas medievais católicas - de objetos ungidos e consagrados para o culto a Deus, busca por bispos e apóstolos, recurso a práticas supersticiosas, pergunto-me se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro não é, na verdade, um filho da Igreja Católica medieval, uma forma de neocatolicismo tardio que surge e cresce em nosso país onde até os evangélicos tem alma católica. (LOPES, 2008, p.31) 

O despreparo das lideranças religiosas além de prejudicar os liderados com distorções dos valores cristãos, abusos de autoridade, exploração, estelionato e enriquecimento ilícito, causa o descrédito do ministério pastoral, causando um mal estar até mesmo para os mais bem preparados, sérios e honestos pastores que dedicam suas vidas ao cuidado de pessoas, essa falta de ética é confrontada durante todo o estudo teológico, seja ao analisarmos exegeticamente cada perícope, ao revisitarmos cada momento histórico vivido pelos pais da Igreja, quando lemos os textos de teólogos contemporâneos, assim como em várias outras vertentes do curso. 

É importante destacar também os malefícios aos próprios pastores e seus familiares decorrentes da falta de preparo, pois sem a devida instrução é possível perder-se entre tantas obrigações e a má administração do tempo e das prioridades, assim famílias se dividem, filhos se rebelam e passam a viver de maneira contrária ao que os pais e pastores lhes ensinaram. Não são poucos os casos de divórcio entre os pastores e apesar de não termos números oficiais, temos conhecimento de vários líderes religiosos evangélicos que estão no segundo casamento. 

Entre tantos dilemas pessoais, questões administrativas na instituição religiosa, afrontas pessoais, disputas de poder, o aumento da depressão entre os pastores está sendo evidenciado pelo recente crescimento no número de suicídios e segundo dados de pesquisa do Instituto Schaeffer, dos Estados Unidos, 70% dos pastores já lutam contra a depressão e 80% acreditam que o ministério pastoral afeta negativamente suas famílias. 

A teologia é a melhor forma de se preparar um pastor para a sua função, assim como a medicina está para o médico, a engenharia para o engenheiro, o direito para o advogado, mas não é somente a teologia que fará o pastor bem sucedido, a teologia é parte fundamental no preparo, mas não são todos os teólogos bons pastores. 

A melhor palavra é vocação, ser benigno, ter vontade de cuidar de pessoas, interesse pelo bem da comunidade, promover o bem estar de maneira inclusiva, sem preconceitos, sem barreiras e em todas as esferas, não somente no que diz respeito a espiritualidade, mas também nas demais questões como, por exemplo, problemas familiares, financeiros e justiça social. Soma-se a isso a inquietação de todas as pessoas que esperam ouvir dos pastores sempre boas palavras, conteúdos ricos, úteis, que acrescentem e que dê sentido às suas visitas constantes aos locais de reunião. Caso o pastor não disponha de todas as ferramentas disponibilizadas por meio da Teologia, seu ministério, sua família, sua comunidade, seus demais projetos pessoais e sua vida estarão sempre arriscados a fracassar.

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