5 de nov. de 2020

Os tipos de Sermões e as partes da Prédica

Há muitas formas de se comunicar uma mensagem, seja por meio de recursos audiovisuais, apresentações artísticas como danças e teatro, mas a mais tradicional e bem sucedida de todas é a prática da comunicação verbal, por meio dos sermões, da pregação da Palavra falada diretamente para os ouvintes de uma comunidade. 

Atualmente estão em evidência os sermões textuais e os expositivos, sendo que os textuais se restringem a um texto curto da Bíblia, que será orbitado pelas ilustrações e argumentos do pregador do início ao fim da mensagem, já o sermão expositivo não se restringe a um pequeno texto, ao contrário, ele contemplará sempre mais do que três versículos e por conta disso não permitirá um trabalho minucioso sobre todas as palavras empregadas no sermão, será necessário escolher bem os comentários e os esclarecimentos, mas é o tipo de sermão considerado de maior exigência de preparo, é um sermão que primeiro impactará o pregador, que o levará a orar mais, estudar mais e se tornar cada vez um pregador melhor. 

Os sermões temáticos ao contrário, não se restringem aos textos bíblicos, mas normalmente utilizam textos bíblicos para chancelarem o que se está sendo explicado como uma verdade bíblico-teológica, mas existe o perigo de o pregador não se referenciar pela Bíblia e não falar algo que realmente alimente os ouvintes, se ater a assuntos do cotidiano, lidos em jornais ou mesmo experiências pessoais. 

Espera-se do pregador um sermão estruturado com uma introdução feita sempre com oração e leitura do texto bíblico, na sequência o que é chamado de exórdio, quando o pregador atrairá a atenção dos ouvintes. Se o pregador não for eficiente na parte do exórdio, dificilmente terá a atenção das pessoas até a conclusão da pregação. Em seguida se faz a explicação do texto bíblico e então se conclui a introdução com a proposição que é a proposta do sermão. 

Após a introdução o sermão segue com o seu corpo argumentativo, quando as questões abordadas na proposição serão minuciosamente respondidas e a isso chamamos de desenvolvimento. 

Outra parte importante para dar fluência e clareza ao discurso é a frase de transição porque ajuda a subdividir o desenvolvimento para se obter uma compreensão mais profunda. Essas frases não precisam ser enunciadas pelo pregador, mas o ajudarão a organizar o sermão. 

A conclusão ou peroração deve ser cuidadosamente preparada para que os ouvintes entendam o objetivo da pregação, “a moral da história”, uma argumentação que responde as questões abordadas durante a proposição e o desenvolvimento. Outra parte importante na conclusão é uma breve recapitulação e a apresentação de desafios que sejam relevantes para os ouvintes.

3 de nov. de 2020

A importância da Teologia para os pastores

Para pastorear pessoas é fundamental estar habilitado, pois apenas vontade e amor não serão suficientes quando for necessário tomar decisões em momentos difíceis como, por exemplo, confrontar pessoas, situações de injustiça, erros de seus pares também pastores, entre outros posicionamentos que irão requerer autoridade e assertividade. 

Há situações no cotidiano que não permitirão voltar atrás, ignorar, não dizer nada, não aconselhar, se isentar, para tanto, estar preparado é fundamental no ministério pastoral. A práxis pastoral passa pela teologia que abarca as mais diversas abordagens possíveis e necessárias no preparo de líderes respeitáveis, relevantes, interessantes e consequentemente bem sucedidos em seus trabalhos. 

No momento de aconselhar os membros de sua comunidade que estão com problemas pessoais o pastor bem formado em teologia terá, por exemplo, conhecimentos sobre os estudos de Sigmund Freud e Viktor Frankl. 

Caso precise refletir sobre questões existencialistas poderá dialogar baseando-se no que aprendeu sobre Soren Kierkegaard e Martin Heidegger. 

O pastor que abraçou a teologia também conhece a história da Igreja, sabe bem sobre os erros e acertos dos pais da Igreja, por exemplo, as ideias de Irineu de Lion e Eusébio de Cesareia que fundamentaram a preeminência do Vaticano, ou ainda os acertos de Agostinho de Hipona ao resgatar o assunto da Graça Salvadora. Enfim, esse pastor ciente dificilmente será conduzido pelo caminho errado. 

A Teologia, por meio da exegese, oferece instrumentos para aprimorar a análise e compreensão dos textos bíblicos, oferece também conhecimentos sobre hermenêutica e conduzem o aspirante a pastor pela trilha para conseguir comunicar as verdades bíblicas de maneira clara, compreensível, correta e livre dos vícios de linguagem, da falta de reflexão, dos equívocos de interpretação, do anacronismo, entre tantos outros riscos que corremos ao aceitarmos a responsabilidade de fazer um sermão em uma de nossas comunidades. 

Porém, um ministério pastoral equipado e fortalecido por esta geração deve ter um fundamento bíblico e teológico adequado. A metodologia sem uma base adequada é perigosa e, em última análise, sem poder. Em outras palavras, seria melhor que entendêssemos a nossa identidade, antes de começarmos a lidar com o trabalho da Igreja e do ministério no mundo atual. Não nos atrevemos a estabelecer funções pastorais fundamentadas em modelos humanos, pois realizaremos pouco para Deus. (FISHER, 1999, p.8) 

A especialização para o pastor passa pela Teologia, pois não adiantará lançar-se ao desafio sem conhecer corretamente as escrituras e toda a compreensão dela ao longo de nossa história. Seria semelhante ao médico que ignorasse as mais recentes descobertas da medicina e ainda dependesse de tentativa e erro para descobrir quais as melhores práticas em sua função. 

Também não é apenas um trabalho de oratória, facilidade de falar em público, pois para falar com propriedade é necessário refletir e compreender assuntos complexos e saber quais foram as conclusões de homens capazes do passado, versados nos idiomas originais dos textos bíblicos. 

Estratégias de marketing não serão a base de nenhuma Igreja, pode ser útil como uma ferramenta, mas não será isso que definirá se uma Igreja é saudável, fiel e que “produz um bom fruto”, ou seja, relevante em nossa sociedade. 

É por conhecerem pouco sobre Teologia e consequentemente sobre a função pastoral que pastores despreparados cometem uma série de erros primários ao se importarem com questões que não são de sua responsabilidade, quando intervém, por exemplo, em decisões pessoais de membros de suas comunidades, quando exigem determinado padrão de vestimenta e até mesmo corte de cabelo e barba, comportando-se de maneira semelhante a ditadores de terras distantes. 

Sobre a falácia de que o conhecimento é prejudicial a fé, afirmo que ela vai contra todo o esforço evangelístico desde a Grande Comissão, acreditar por ignorância é uma prisão e sobre isso “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:31-32) O saber também não deve ser compreendido como soberba ou arrogância, citar bons teólogos do passado não deve ser visto com maus olhos, ao contrário, precisamos valorizar todo o desenvolvimento cristão nesses cerca de dois mil anos de labor teológico.

30 de out. de 2020

A Igreja e a Missão são inseparáveis

Somos a Igreja quando assumimos a responsabilidade confiada a nós como Igreja, tal como a perícope no Evangelho de Mateus, capítulo 28, versículo de 18 a 20: 

E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém! 

As últimas instruções de Jesus aos seus discípulos continuam sendo nossas últimas instruções e assim devemos proceder, anunciando as verdades sagradas por toda a Terra até o fim. Uma primeira observação é de que a compreensão da Grande Comissão esteve incorreta por um longo período de tempo enquanto se pensava que essa missão era estritamente transcultural, hoje temos a clareza de que mesmo no local onde estamos fixados, seja onde for, assim que nos tornamos Igreja, ou seja, parte do Corpo de Cristo, automaticamente estamos em meio a Missão. A questão é se vamos cumprir a missão ou não. 

Segundo Blauw (1966) a Igreja é testemunha de Cristo no mundo, ou então não será Igreja obediente a Cristo, trata-se da natureza missionária da Igreja, e isto deve ser feito sem ter como base os confins da Terra, sendo que o componente geográfico não é determinante para a Missão, esse foi um pensamento muito forte nos séculos XVIII e XIX. 

Compreendemos que o foco na missão transcultural teve e tem uma importância vital para a Igreja, precisamente, não podemos abandonar a missão transcultural, pois seria um novo erro, a Missão deve ser completa, a questão geográfica não deve ser vista como fator restritivo para a Missão, só assim será um componente legítimo. 

Existem muitos obstáculos para a Missão transcultural, tais como a opressão islâmica que não permite a conversão ao Cristianismo, ou ainda grupos radicais como Boko Haran que perseguem vilarejos cristãos na África Subsaariana, ateiam fogo em Igrejas e sequestram cristãos. Em países asiáticos é comum os governos restringirem a pregação do Evangelho, proibirem a leitura da Bíblia inteira ou parte dela, por motivos políticos via ideais do Comunismo Marxista ou por razões religiosas e culturais. 

Outra questão é o abandono das localidades onde a Igreja já está instalada, sem prestar qualquer auxílio à comunidade, não fazendo qualquer diferença em meio a suas atividades corriqueiras, repetitivas e sem impacto na sociedade. É um perigo muito grande a comunidade de fé estar à margem da sociedade, atribuindo para si um status de separada por ser sagrada, deixando de ser sal e luz, enfim deixando de ser a Igreja. 

Não importa se deixamos de atuar na missão no contexto local ou se deixamos de atuar nas missões transculturais. “Uma motivação baseada na autoproteção não nos conduzirá à Grande Comissão, mas sim a uma grande omissão (Borges, 2007)”. 

A princípio parece fácil a ação de fazer a diferença em sua cidade, seu bairro, local onde muitas pessoas te conhecem, mas a realidade é bem diferente, pois onde te conhecem também te julgarão pelo seu passado, podem inclusive não te respeitar por ações de antes de se posicionar como cristão, ou mesmo por ações quando já se apresentava como cristão, afinal de contas, não somos perfeitos. 

A falta de atenção na localidade ou um trabalho pouco relevante podem tornar um local outrora cheio de cristãos e de pessoas em recuperação num local sem qualquer fonte de esperança, compaixão ou acolhimento, um lugar sem fé, que dependerá novamente de uma missão transcultural vinda de longe para resgatar os valores e as virtudes cristãs. Seja na missão transcultural ou numa ação local, a verdade é que precisamos nos expor e isso é desconfortável, perigoso, desgastante, e ao mesmo tempo é o que nos faz sermos Igreja.

28 de out. de 2020

A Bíblia fazendo parte de nossas vidas em comunidade

Leitura bíblica no cotidiano da comunidade
A leitura da Bíblia é a principal diferença entre cristãos e não cristãos, pois não poderíamos nos diferenciar sem o nosso instrumento de fé. No entanto é importante nos aproximarmos dos textos da maneira correta. 

Há comunidades em que ao citar às escrituras sagradas recitando seus textos e indicando sua localização por livro, capítulo e versículo, você é bem visto. Essa não pode ser a nossa única motivação para lermos a bíblia. 

A Bíblia deve fazer parte do nosso cotidiano, na medida em que nossas atitudes refletem o conhecimento sobre os ensinamentos contidos nela. 

Deixar a bíblia aberta em uma página como um item de decoração não é errado, mas não a ler é um grande desperdício, no entanto, dizer frases como “na Coreia do Norte não tem Bíblias, então vamos valorizar as nossas” também não fomentará a leitura da Bíblia. Para isso precisamos compartilhar a bíblia em nossa transformação pessoal, em nossa sabedoria para tomarmos decisões, nosso ânimo diante das adversidades, entre tantas outras diferenças que a Palavra de Deus faz na vida dos cristãos. 

É importante pensarmos que o Cânon foi definido para ser um dos pilares que sustentariam a ortodoxia e impediriam as heresias, mas mesmo assim as lideranças religiosas do passado, especificamente durante a Idade Média, tomavam suas decisões ignorando completamente os textos sagrados e se comportavam como se tivessem mais autoridade do que eles, por isso uma das cinco Solas foi fundamental para a Reforma Protestante de 1517, Sola Escriptura, retoma o assunto da importância da Bíblia como luz para nossos caminhos. 

Outro erro terrível da Idade Média foi aprisionar a Bíblia no Latim, idioma que passou a ser inacessível, assim como já eram inacessíveis o grego e o hebraico, outras línguas nas quais já havia traduções dos textos, mas também incompreensíveis. As traduções para o inglês dos pré-reformadores John Wyclif e William Tindale foram cruciais para nosso avanço assim como a tradução de Martinho Lutero para o alemão. 

Atualmente em nossas comunidades ainda há a barreira da dificuldade de interpretação de texto, além de em certas versões ser impossível para muitos a compreensão de termos pouco verbalizados ou ainda outros arcaicos. 

Avançamos muito com novas versões com vocábulos mais simples e por isso o acesso à Bíblia está se tornando cada vez mais fácil, no entanto é necessário trazermos a Bíblia para o cotidiano, libertá-la de ser um conteúdo exclusivamente litúrgico ou para ser estudada academicamente. 

A Bíblia pode e deve ser assunto em nossas casas, nos nossos trabalhos, escola, com vizinhos e nessa troca de informações sobre a Bíblia certamente todos nós ganharemos, primeiro pelo conteúdo que é transformador e também por estarmos reforçando laços de amizade e estabelecermos uma espécie de discipulado mutuo, um companheirismo entre os cristão tendo como vínculo principal a Palavra de Deus. 

Acerca da acessibilidade das escrituras hoje podemos ler a bíblia em nossos smartphones com consultas ao dicionário, localização de textos por pesquisa de termos, ouvir o áudio ao invés de lermos e ainda podemos compartilhar os textos facilmente em nossas mídias sociais. Certamente os pré-reformadores não imaginavam que um dia chegaríamos a esse patamar, eles não imaginavam sequer a invenção da imprensa no século XV que possibilitou a produção de bíblias aos milhares, pois antes da imprensa eram necessários copistas para fazerem cada manuscrito um por um. 

Em nossas comunidades é comum a restrição ao uso do celular como forma de ler a bíblia para prevenir-se de distrações e descontrole do ambiente de culto, mas o momento é o de fomentarmos a leitura e o compartilhamento das escrituras sagradas em todas as mídias, especialmente na mídia mais utilizada em toda a Terra, o celular. De tempos em tempos, menos barreiras e mais possibilidades para a Bíblia.

26 de out. de 2020

A quebra de paradígmas e a continuidade da Missão

A Missão da Igreja
A Missão evangelística está fortemente vinculada ao texto de Mateus 28:19-20 ”Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” e como podemos ler nestas palavras de Jesus, quem os enviou, não há qualquer menção à conquista de outros povos pela força, nem qualquer recriminação aos hábitos culturais de outros povos, o que Jesus ordena é que seja ensinado a maneira de se viver conforme o exemplo que ele lhes mostrara durante o seu tempo de convivência, entre dois e três anos de discipulado. A ordem é que seus seguidores façam novos discípulos, o ensino então deve ser por meio do discipulado, com convivência e não com preconceitos e não aceitação das diferenças. 

É importante pensarmos que os judeus que foram os primeiros a receber o Evangelho precisaram mudar sua forma de pensar sobre a fé judaica, aceitando novos limites baseados em princípios muito básicos como o Shema, por exemplo, quando Jesus menciona o texto de Deuteronômio 6:5 para destacá-lo como mandamento mais importante “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder” e continua acrescentando “E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Marcos 12:29-31) Numa quebra de paradigmas mostra que a essência da lei é o amor, primeiro a Deus e depois para toda a humanidade. 

Assim também nós precisamos impactar as outras culturas com a mensagem do amor em primeiro lugar a Deus, para que deixem suas práticas religiosas oferecidas a outros deuses e passem a oferecer adoração ao único Deus verdadeiro, e de semelhante forma precisamos ensiná-los a fazer o melhor pelo próximo, deixando todas as práticas que fazem mal aos demais ou a eles mesmos e isso significa aprender com cada cultura detalhes sobre suas práticas afim de sermos capazes de instruí-los e também capacitá-los para que possam julgar por si mesmos se tais práticas devem ser abandonadas ou não, evitando assim qualquer forma de dependência ou fragilidade em uma religião superficial. 

A transformação de cada indivíduo precisa ser voluntária, nunca por força ou violência e nem por constrangimento cultural, hostilizando práticas diferentes sejam elas as artes ou formas de expressão ou comportamentos estranhos aos nossos, o essencial não é o exterior e sim o interior. Se o amor for o crivo, assim como a Palavra de Deus, não haverá desvirtuação da Missão confiada a nós. 

A missão primordial é a de Deus, pois foi ele quem mandou seus profetas, seu Filho, seu Espírito. Destas missões, a do Filho é central, pois foi o auge do ministério dos profetas e incluiu em si, com clímax, o envio do Espírito. Agora, o Filho envia – como ele próprio foi enviado. Mesmo durante seu ministério público, ele enviou primeiro os apóstolos, e então os setenta como um tipo de extensão de sua própria pregação, ensino e ministério de cura. Em seguida, após sua morte e ressurreição, ele expandiu o alcance da missão ao incluir todos que o chamam de Senhor e chamam a si mesmos de seus discípulos. Outros estavam presentes com os 12 quando a grande comissão foi dada. Por isso, não podemos restringir sua aplicação aos apóstolos. (Stott, 2010, p.27) 

Somos enviados com a missão de anunciarmos o amor de Deus e a entrega expiatória de seu Cristo e orarmos com imposição de mãos para que recebam o Espírito Santo, somos nós agora os responsáveis pela quebra de paradigmas e pela continuidade da obra missionária, treino e envio de mais discípulos de todas e para todas as nações.

23 de out. de 2020

O desafio para os pastores no século XXI

Ao refletirmos sobre os desafios para os pastores do século XXI nos deparamos com o cenário desfavorável, em parte devido posturas inadequadas de pastores que cometeram seus erros como qualquer ser humano, mas que infelizmente suas falhas são expostas para todos enquanto muito mais líderes fizeram um trabalho exemplar, mas suas histórias são desconhecidas do grande público e seus feitos em meio a tanto sacrifício são esquecidos. Isso ocorre porque a sociedade em geral criou certa resistência à religião e aos assuntos que dizem respeito ao além, post mortem, ao etéreo, imaterial. É uma sociedade materialista, impaciente, que exige resposta rápida e que escolhe seus conteúdos em poucos cliques. 

Segundo “Fisher (1999) o cenário é de crise no ministério pastoral, pois as comunidades nas quais os pastores trabalham já não valorizam mais o empenho, assim como a sociedade já não respeita mais a Igreja e o ministério pastoral como antigamente. Os pastores prestam um serviço para um mundo que já não o deseja mais. Pastores são um anacronismo em meio a uma cultura secular. Até os membros das Igrejas estranham seus pastores”. 

Esse cenário somado ao desgaste emocional que os pastores naturalmente sofreriam por lidar com pessoas e as pressões em liderar e administrar suas congregações têm refletido de maneira extremamente negativa e as notícias que temos conhecimento são de pastores desistindo do ministério, sofrendo com depressão e até mesmo recorrendo ao suicídio. Um problema que precisamos enfrentar de olhos abertos e sabendo diferenciar os casos de doenças crônicas devido problemas puramente biológicos como distúrbios mentais entre os casos motivados por situações de stress e falta de assistência. 

Conforme pesquisa no Instituto Francis Schaeffer, 71% dos pastores sofrem com depressão e esgotamento semanalmente ou diariamente. 75% dos pastores sentem que são incompetentes e/ou mal treinados por seus seminários para liderar e gerenciar a Igreja ou para aconselhar os outros. Isto deixou-os desanimados em sua capacidade de pastor. A pesquisa ainda aponta que 1500 pastores deixam o ministério a cada mês devido ao fracasso moral, esgotamento espiritual ou algum conflito em suas igrejas. 

O Livro o Monge e o Executivo, “Hunter (1998), conta a história de líderes que se reúnem para conversar sobre uma boa liderança e em certo diálogo é retratado o perfil ideal de um líder para a atualidade, dentre as características estão a honestidade, confiabilidade, o bom exemplo, cuidados, compromisso, ser um bom ouvinte, tratar as pessoas com respeito, encorajar, ter uma atitude positiva e gostar de estar com pessoas, ainda nesse diálogo um líder religioso afirma que se não for dessa forma não será possível manter a sua congregação unida a ele.” 

Essas características são admiráveis e a pessoa com tais atributos certamente terá uma grande quantidade de pessoas à sua volta e dispostas a segui-la. De outra forma, se apoiando em hierarquias de instituições, argumentos como o de que é um “ungido do Senhor”, apelos emocionais ou manipulação, as pessoas simplesmente se vão na expectativa de seguir alguém melhor e não é de surpreender que possam encontrar alguém melhor preparado, mais admirável, no entanto, não perfeitos. Não podemos exigir dos pastores perfeição, assim como os pastores não devem exigir de seus liderados perfeição. Enfim são apenas pessoas, mas todos nós somos capazes de observar quem está se esforçando para tonar-se uma pessoa melhor e quem simplesmente não faz questão. 

Não significa que a receita bíblica esteja em desuso, significa que uma releitura para a atualidade é necessária além de estar conforme Primeira Timóteo três, versículos de um a sete: 

Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém, também, que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta e no laço do diabo. 

Numa sociedade em que a informação e os conteúdos estão circulando tão rápida e livremente é praticamente impossível conter a debandada de pessoas de instituições retrogradas e limitadas. Ao passo em que Igrejas tradicionais, conservadoras e indispostas para o diálogo se esvaziam, outras Igrejas sob lideranças atualizadas, melhor preparadas e menos engessadas estão lotadas e precisando fazer rodízios em suas reuniões, pois de outra forma não comportariam o número de membros em suas comunidades.

21 de out. de 2020

A importância da Homilética

Embora o sermão seja historicamente considerado a parte mais importante da liturgia nas celebrações em comunidade, o zelo na preparação, em boa parte das vezes por falta de preparo das lideranças, têm sido negligenciados à medida que outras atividades estão tomando a atenção dos pregadores. Em outros casos ao delegarem a atividade para pessoas menos experientes ou simplesmente despreparadas, ocasionalmente ocorrem reuniões em que as pessoas poderão ficar frustradas pela experiência negativa. 

Muitas pessoas citam que o culto deve ser oferecido a Deus e tudo deve ser pensado como um serviço a Ele, mas há de ser considerada a experiência do ouvinte, sendo que muitas vezes pode estar trocando seu tempo que seria de qualidade em família, estudos, sono ou mesmo outras atividades, lembrando ainda do deslocamento e o investimento financeiro despendido para se congregar e se ouvir algo especial. 

Por isso, precisa ser reforçada a importância da homilética na preparação de novos pregadores, ou ainda, é um assunto que deveria ser recorrente em nossas comunidades de fé, visto que cada membro é um homileta em potencial, muitas vezes encarregado do serviço de apresentar as verdades sagradas aos demais membros de sua comunidade sem ao menos saber do que se trata o assunto da homilética. 

A homilética é “entendida como a disciplina que se ocupa da ciência e da arte da pregação de sermões religiosos: [...] ciência, porque estuda criteriosamente os processos do discurso religioso, e arte porque aplica-se às suas técnicas” (RAMOS, 2012, p. 28). 

As principais ferramentas à disposição do homileta em seu trabalho de preparação da mensagem são a exegese, a hermenêutica e a retórica. Segundo Ramos (2012, p. 98) A hermenêutica, que tem por objetivo “interpretar a Bíblia para o presente”, do gre­go hermeneuein, também significa “interpretar e ocupa-se mais particularmente dos princípios que regem a interpretação dos textos”, ao passo que a exegese “descreve mais especificamente as etapas ou os passos que cabem dar em sua interpretação”. Esse trabalho precisa ser feito a fim de se compreender de maneira correta o relato bíblico ou extrabíblico evitando assim compreensões equivocadas, anacrônicas ou distorções do conteúdo e se elaborar a melhor forma de se comunicar a mensagem para que os ouvintes possam também compreender os conteúdos. A retórica deve ser proporcional à realidade do ouvinte, pois de nada valerão belas palavras que não serão compreendidas. A tarefa do homileta deve ser comunicar e não simplesmente fazer demonstrações de conhecimento, pois a finalidade é compartilhar e não reter o conhecimento.